Fuçando nos meus arquivos, achei o que tinha escrito contando sobre a minha decisão de pedir rematch da outra família. Acho que cheguei a mencionar no blog que mudei de familia e tal, mas nao contei detalhes do que aconteceu. Eu escrevi o texto abaixo quando ainda estava na outra casa, nem tinha saido de ferias ainda, foi meio que um desabafo, por isso esta gigantesco! Sei la, achei interessante reler tudo isso depois de 3 meses. Depois que o tempo passou e as coisas se acertaram, nem parece que eu vivi tudo isso, que senti tudo isso. Simplesmente passou e parece que ja fazem anos. Estranho nao? Enfim, morda sua maçã e senta que la vem a historia...
Depois de tantos meses que nao dou as caras nesses blog, volta o cão arrependido com a cara mais lavada do mundo tirar as teias de aranha. Alias, sera que alguém ainda se dara ao trabalho de vir aqui ler o que eu escrevo? Sim ou nao, estou aqui escrevendo, pra variar em mais uma madrugada de insônia (ou seria efeito do termogenico utilizado para queimar os cookies malditos ingeridos compulsivamente? whatever). O que importa eh que sao duas e pouco da madrugada de quinta para sexta feira (pre ferias alias) e estou super acesa. Ja assisti meus episódios de Grey's Anatomy, já fucei em todos os grupos do Facebook. Ja estudei ateh e nada do sono vir, entao quem sabe nao gasto essa energia expressando tudo que ta passando nessa cabeça doida aqui?
Enfim, nem sei por onde começar e nem sei aonde esse post vai parar (bonde do blogao sem freio), por isso perdoem-se a possível falta de coerência e coesão presentes nesse texto. Bom, vamos la, como acabei de tomar uma decisão muito importante, que por enquanto nao sei onde vai dar (talvez ateh eu publicar o post, ja tenha descoberto), vou contar meio que superficialmente como tem sido esses quase 6 meses de Estados Unidos (como voa, meu Deus).
Tem sido bacana, ja me sinto adaptada ao pais, aos costumes, a rotina. Ja fiz muitas amizades e ainda nao tive uma homesick das brabas. Ja tive sim, dias de muita tristeza, saudade, mas nada que me fizesse pegar o primeiro avião de volta para o Brasil, acho que normal ateh. Bem, o tempo esta realmente passando muito rápido e ai que mora o problema. Quando a gente para pra analisar o que temos feito da vida, bate um certo desespero, porque o tempo passou e você nao fez quase nada do que tinha planejado. Estou sentindo isso na pele. Justamente por eu ter me adaptado demais a rotina, fiquei meio "cega" com relação a certas coisas. Nao diria cega, mas a opinião de outras pessoas acabou meio que distorcendo meu próprio ponto de vista e eu ignorando o que realmente estava sentindo, entende? Nao, complicado. Vou tentar explicar tim tim por tim tim para que faça mais sentido.
Como cheguei a mencionar em posts anteriores, cuido de 3 kids (2, 3 e 5 anos), moro na Filadelfia (na cidade mesmo), nao tenho carro, trabalho mais que 45 horas por semana, as vezes mais que 10 horas por dia, mas ganho extra para isso. Moro numa row house totalmente zoneada, apelidada por mim de "muquifo". Sim, eh tao terrivel a situação que no primeiro dia que cheguei chorei ateh nao poder mais. Como diabos eu larguei o conforto do meu lar para me enfiar nesse cafofo macuquento com um quarto do tamanho do meu banheiro? Chorei, chorei, desesperei naquela noite. Foi horrível, pensei que nao fosse conseguir ficar um mes aqui. Mas, surpreendentemente, o outro dia chegou e com ele veio a recepção calorosa das kids, os meus fofos foram um pouco mais simpáticos do que na noite anterior e conversei bastante com a ex-nanny deles. Entao, de alguma forma fui conseguindo "driblar" aquele choque todo que tive quando cheguei e fui me "adaptando" a bagunça do lugar, aos hábitos diferentes, pensando nos meus objetivos, no meu foco ali, nos pontos positivos, nas kids, na localização, mergulhei nessa nova realidade realmente de cabeça e coração abertos para o novo e o diferente. Sempre lembrando que meu objetivo nesse pais eh estudar. Nao liguei de trabalhar a mais desde que ganhasse extra, nao liguei pra muitas coisas pequenas que me incomodavam, justamente porque sou uma pessoa que nao gosta de ficar reclamando a toa, sem antes tentar resolver a situação e como aqui EU sou a estranha no ninho, quem tinha que se adaptar era EU e nao o resto da familia, certo?
Engoli quinhentos sapos, de boquinha fechada e carinha feliz, porque afinal eh dando que se recebe nao eh? Agüentei situações constrangedoras, que nao convém mencionar, mais uma vez por nao querer parecer reclamona e mimada. E também porque eu sou teimosa que nem uma mula, meto a cara mesmo ateh onde nao da mais. Outra coisa, falar NAO eh um grande problema pra mim. Mas depois pensando friamente, uma das coisas que me influenciou a ficar nessa família foi o sentimento de culpa que eu sentia por nao me sentir bem ali. Confuso nao? Eh que todas as e babas da familia, todos os amigos da familia sempre falaram MUITO bem deles, que eles sao isso, que sao aquilo, que da pra superar toda a zona que casa eh (eu definitivamente tenho a pior casa do mundo auperiano) e bla bla bla. Todos na posição de baba e amigos, ninguém na MINHA posição. Mas mesmo assim, eu me sentia mal em querer reclamar de alguma coisa ja que todo mundo fala tao bem deles, soh eu que eu vou querer reclamar? Realmente, eles tem pontos positivos (eles sao legais) e as crianças sao muito boas de se lidar, trabalhosas claros, como toda criança pequena, mas uns amores. Isso também fez com que eu permanecesse de boquinha fechada: as kids sao ótimas, e o medo de trabalhar com pestinhas? medo, medo, culpa. Tudo isso coberto pela empolgacao de se morar praticamente no centro da cidade, de poder ir pra balada sem gastar muito, de ter varias amigas perto, de conhecer lugares diferentes, realmente tudo isso estava me tapando a visão dos meus reais sentimentos e criando uma idéia ilusória de felicidade, de que eu estava muito bem ali, apesar dos perrengues, porque afinal perrengue todo mundo tem e tem gente pior que eu neh? Entao, vamos empurrar com barriga. Ateh que fui comparando a minha situação com a de algumas amigas e vendo que a coisa funcionava muito diferente. Alem do que, TODAS sem exceção se chocaram ao ver a precariedade do cafofo.
E aih, o tempo vai passando e vc vai se incorporando na rotina e vai aceitando mais situações desconfortáveis, mas reclamar pra que neh? Vamos fazer o nosso melhor! E aos poucos você vai parando para pensar e as fichas vao caindo, aos poucos, uma a uma, ateh você se dar conta de que nao quer mais viver naquela situação. E as coisinhas pequenas que vc relevava porque achava que valia a pena, juntas se transformam numa total vida de merda de Au Pair nos EUA. Fazem quase 6 meses que estou aqui, quase metade do ano ja se foi e o que fiz de realmente importante para mim? No maximo, melhorei o meu inglês, o que ja era de se esperar neh? Me matriculei em curso on-line (fodastico, mas online) porque nao existe horário de estudos que eu consiga cumprir por causa do meu schedule. Estou SEMPRE exausta de cansada. Trabalho o dia inteiro com 3 crianças, chega no final do dia, tudo que quero eh banho e cama e estudar que eh bom? E o salário oh?
No trabalho, dou meu melhor sim, mas ainda assim, sou AU PAIR, nao sou baba profissional que soh faz isso da vida. Aqui exigem de mim que eu seja tao boa quanto uma baba, soh que mais barata e com o PLUS de estar sempre a disposição para eventuais finais de semana e saídas noturnas durante a semana. Ou entao: "porque nao, questionar se a AU PAIR nao poderia dar banho nas 3 crianças agora que ela acabou de chegar de uma viagem de 7 horas ja que a gente esta de ressaca da festa do ano novo? Ou entao, ja que ela esta "a toa" no domingo e eu quero coçar meu saco, pq nao pedir para ela olhar as kids com a desculpa de que eu vou trabalhar? Ela vai estar around mesmo! Ta aqui pra isso mesmo! " Entendem por que quando os fofos estao em casa, eu me sinto na obrigação de estar fora?
Mais casos interessantes: "Pq nao por a AU PAIR pra dormir no quarto com as kids depois de ela ter trabalhado durante o dia no casamento? E poe o menino mais velho pra dormir na mesma cama que ela. Assim, enquanto ela acorda de meia em meia hora pra levar um deles no banheiro, a gente pode beber ateh cair e ainda curtir a ressaca no outro dia de manha! Eh soh dar uma graninha a mais que ela fica contente, afinal veio do Brasil pra trabalhar aqui pra ganhar $800 por mes, soh pode estar passando fome la coitada! Ja que vamos ter uma AU PAIR que tal construir o quarto dela embaixo do nosso banheiro? E SEM fechadura na porta? Quem precisa de privacidade? Ela vai ser parte da família! Pode ver a gente de cueca, calcinha, escutar a gente transando..a gente pode inclusive mijar de porta aberta! Ah sim! E vamos fazer o encanamento do nosso banheiro BEM nas paredes dela, assim quando a gente usar a privada ou o chuveiro, ela se sente numa cachoeira!! How cool is that? E claro, nao vamos esquecer de colocar os tanques das tartarugas com água em constante movimento BEM do lado da porta do quarto dela, assim ela pode ter a sensação de estar chovendo todos os dias (com o barulho das goteiras) e ainda evitar problemas renais com sua ida constante ao banheiro! Claro, vamos colocar o telefone principal e a central de wifi na senzala dela também, se tivermos qualquer problema no meio da noite, eh soh bater na porta dela! E ela nao vai se incomodar com o telefone que nao eh pra ela, tocando constantemente! Tambem nao vai se incomodar se a gente combinar na noite anterior de trabalhar duas horas mais cedo que o normal e esquecermos disso e faze-la levantar cedo a toa! Eh bom levantar mais cedo, faz bem pro corpo! Ah sim, ela eh adulta, mulher, 24 anos, brasileira, nem deve ver televisão (nao vamos gastar cinquenta dolares a mais soh pra por TV pra ela no quarto). Ai, ela pediu eh? Tenta la aTV velha com a antena normal, se pegar bem, se nao pegar paciencia, ela assiste no computador. Ah! E ela também nem deve muitas coisas, uma cômoda soh e uma arara bastam para acomodar as coisas dela. E deixa a porta do quarto dela sem tranca, assim nossas crianças podem se divertir indo la abrir de 5 em 5 minutos enquanto ela troca de roupa. Ai, puts, ela ta chegando, mas o banheiro ainda nao ta pronto! A banheira esta cheia de material de limpeza e veneno de rato! Vamos oferecer o banheiro la de cima pra ela. Tenho tesao em ver a AU PAIR passando na sala antes e depois do banho! Vamos colocar um chuveiro decente depois de uns 2 meses que ela estiver aqui ta bom? Mas sem cortina na janela, pros vizinhos verem ela pelada! Ah, no quarto dela vamos colocar 3 janelas grandes, com cortinas transparentes, assim fica bem claro e os vizinhos podem ter outro angulo dela pelada! E vamos colocar mais janelas entre o quarto dela e o quarto da bagunça, assim quando a gte acender a luz num quarto, ela nem precisa acender a luz no dela! Eh bom que ela acorda assim que o sol nasce, TODOS OS DIAS! Queremos que ela seja parte da nossa familia, vamos leva-la conosco numa festa de final de ano e vamos ficar bêbados e começar a reclamar do nosso casamento pra ela! Ela tem cara de ser boa ouvinte de bêbado. E depois vamos dar uma pra ela ver que a gte tem vida sexual ativa! Queremos que ela tenha privacidade, vamos chamar nossos amigos pra dormir no quarto anterior ao dela, assim quando ela acordar e quiser ir pro banheiro, ela ja da bom dia pra todo mundo. Queremos que ela se divirta com nossas crianças levando-as a passeios longe, em dia de frio, a peh. Mas ela pode pegar o carro se quiser, soh nao vai achar lugar para estacionar e faz bem andar a peh. Acho que ela ja nao liga mais pra nossa bagunça neh? Vamos começar a ser mais porcos entao?A menina mais nova ta assada, ao inves de wipes, vamos mandar ela usar panos de prato. Ela nao liga se deixarmos roupas intimas sujas espalhadas pela casa neh? Ja faz parte da familia! Ela nao vai ligar se eu avisar que ela vai trabalhar essa noite, mesmo faltando cinco minutos pra ela ficar livre neh? Ela eh parte da familia, vamos convida-la para o jantar com a nossa familia, mas nao vamos nem olhar na cara dela, muitos menos puxar assunto. Nao tenho paciência pra conversar com gente que fala mais devagar que eu. Ela pode comer junto com as crianças na sala. Sozinha. Ai, essa semana vai ser bem busy, ela nao liga de trabalhar todos os dias ateh a noite e trabalhar no sabado e domingo nao neh? Estamos pagando extra mesmo, ela deve ser grata a nos ainda. Ah sim, e vamos sempre perguntar se ela ta precisando de alguma coisa, se precisar a gte da uma desculpinha e vai enrolando ela, ela sabe que a gente eh muito ocupado mesmo, nao vai ficar nos enchendo o saco."
Viram? Sao coisinhas pequenas, toleráveis ateh certo ponto e que pra muita gente falando assim soa como reclamação de gente mimada, mas que juntando tudo vira um fardo gigante pesando toneladas e te faz pensar se vale mesmo a pena continuar a viver assim, afinal pagamos para estar aqui, planejamos, optamos estar aqui. E o mais importante, viemos para os EUA com um OBJETIVO e se nao estamos conseguindo cumprir esse objetivo, o que nos motiva a continuar nessa vida? Serio mesmo. Nao sou baba, nao sou professora, nao trabalho com criancas. Nao tenho uma vida miseravel no Brasil, pelo contrario. Nao preciso viver assim, nao preciso trabalhar ateh a exaustão, vivendo precariamente sem conseguir cumprir meu principal objetivo aqui. Os finais de semana se tornaram um martírio pra mim, se eu trabalho eh um saco, se eu nao trabalho tambem, pq se eles estao em casa, eu tenho que ficar fora. Nao adianta, nao me sinto a vontade com eles aqui. E eles pensam que se estou em casa, eh porque a luzinha do Stand By esta acesa e a qualquer momento posso dar uma olhadinha nas kids. Quando eles viajam, eh o paraiso no muquifinho.
E honestamente, tenho absoluta certeza de que nao estou sendo tempestiva, agindo por impulso. Ja pensei bastante, ponderei, tentei me adaptar a tudo isso, mas nao acho que valha a pena tamanho sacrificio. E todas essas coisas que citei, todos esses probleminhas sao soh algumas situacoes que me vieram na cabeça. Sao problemas que nao serao solucionados, simplesmente porque nao tem solucao mesmo sabe? Foge do controle deles. Eles nao mudarao para se adaptar a mim. E se eu nao to me sentindo bem aqui e tennho opcao de mudar, por que nao tentar enquanto eh tempo? Nao sou o tipo de pessoa que desiste sem antes tentar. Posso falar com quase total certeza que nao eh qualquer uma que encara isso aqui nao. Nao eh frescura, nao eh exagero.
Depois de um tempo sem o carinho da sua familia, namorado, sem comida de verdade, sem sua vida de verdade, sem muitas coisas, vc passa a dar importancia pra qualquer coisa que de um pouquinho mais conforto, que te faca se sentir um pouquinho menos como uma imigrante mao de obra barata sabe? E eh assim que me sinto aqui. Acho que por isso eles nao conversam comigo direito sobre qualquer coisa. Devem achar que a pobre coitada do Brasil nao deve ter ideia do que se passa mundo, ja que ela ta aqui por causa dos $200 semanais que a gente paga pra ela. Infelizmente, eh assim que ando me sentindo mesmo. A empregadinha brasileira, mao de obra barata que esta aqui pra juntar dinheiro pra voltar pra sua terra e tentar alguma oportunidade melhor na vida. A fofa ateh "estranhou" que eu ia passar os 15 de ferias num hotel (??? onde ela achou que eu fosse ficar?) E tipo, nao eh porque sao americanos nao, sao eles mesmo sabe? Porque todos os outros fofos que eu conheço tratam as minhas amigas e me tratam super bem, de igual pra igual pra sabe.
Por isso, antes que o tempo passe mais e eu empurre ainda mais coisa com a barriga soh pra ser boazinha, decidi pedir rematch e procurar uma familia que me ofereça melhores condições de se viver. Melhor carga horária e schedule, melhor ambiente, melhores condicoes mesmo de se viver. Sei que tem. Nao existem soh familias ruins, existe muita familia boa. Sei que sou uma boa au pair. Sou o tipo de pessoa que podem falar o que quiser, menos de que eu faco meu trabalho mal feito sabe? Seja ele qual for, eu vou fazer bem feito e nao vou ser taxada de incompetente. Enfim, sei que tenho condições de viver de forma melhor aqui, nao preciso me matar desse jeito, afinal o curso eh online mesmo, se eu nao achar ninguem, eu volto pro Brasil e continuo estudando por la. Sem problemas, No big deal for me. To com saudade da minha real life mesmo...
Nao to falando aqui que quero a familia perfeita para viver o sonho americano. Longe disso. Tenho total nocao de como as coisas funcionam e sei que nao existe "familia perfeita". Um problema ou outro sempre vai ter, mas se eu conseguir encontrar um lugar onde me sinta um pouquinho melhor, onde tenha um pouquinho mais de privacidade e um pouquinho mais de conforto, ja ficarei mais feliz.
Ja escrevi um email bem ponderado e claro para a minha LCC e vamos conversar pessoalmente assim que eu voltar de ferias daqui a duas semanas. E seja o Deus quiser. De verdade, tenho uma feh enorme em Deus e sei que ele tem o melhor preparado pra minha vida. Eh soh confiar e saber esperar.
Aguardem os proximos capitulos e fingers crossed for me.
Duas semaninhas OFF em Miami e Cancun com o meu amor! Vida de au pair tambem tem seus momentos de gramour baby! hahaha
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